sexta-feira, dezembro 18, 2009


«O que distingue o homem são de um alienado,
é precisamente que o homem são tem todas as doenças mentais,
 e que o alienado tem apenas uma!»
- Robert Musil

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Excerto do livro «Helping someone you love recover from BPD» de Tami Green

Porque nos vamos embora

Familiares e amigos que ajudei, perguntaram-me porque as pessoas que eles amam os abandonaram e depois voltaram, vez após vez. Eu explico que, para realmente entender o que acontece com alguém que tem TPB, é necessário primeiro entender a forma intensa como as tempestades emocionais afectam tudo no «nosso mundo». Aqueles que têm TPB não têm «pele emocional». Muitos comentários ou observações aparentemente benignos da parte dos nossos entes queridos acerca de nós, são sentidos como um ataque. Criticas «construtivas» são sentidas numa escala de ataque. Um sistema nervoso saudável inicia uma luta ou resposta quando se sente ameaçado por um perigo. Quem tem TPB sente-se «à beira do perigo» em todos os momentos. Assim, entramos em luta ou resposta muito facilmente, especialmente quando criticados.

Visto que as relações próximas trazem um maior grau de interacção e de sofrimento, quem tem TPB muitas vezes culpa a outra pessoa pela sua angustia. Quando não compreendemos o porquê do sofrimento faz sentido atribuir a causa dessa dor à pessoa que convive conosco. Com o tempo e a compreensão percebemos que o nosso sofrimento não pode ser causado por uma pessoa, ou pelas suas palavras e acções, mas pode ser resultado de uma doença que é curável.

No entanto, só porque é curável, não significa que a cura seja rápida e fácil. Talvez tenha passado anos e gasto milhares de dólares em terapeutas para si, ou para o seu ente querido. Por vezes, para desespero dos entes queridos, leva anos para percebermos que pode existir um problema que simplesmente não se vai embora com uma mudança de cenário ou de elenco. (...)

Porque as criticas magoam tanto

Porquê a critica, mesmo quando entendida, magoa tanto? A resposta instintiva do Ego é guardar-se da critica  Qualquer pessoa que se sinta atacada, pode sentir-se na defensiva e pode defender-se. Quem tem TPB, tem um senso de si próprio muito sensível. Quando esse senso é desafiado, podem sentir que «podem quebrar-se» e deixar de existir. Quando combinado com uma resposta emocional intensa a todas as criticas, o resultado é, geralmente, uma reacção imediata, seja para evitar a dor do «ataque» , por fugir a ele o mais rápido possivel, ou por defender-se dele em contra-ataque.

Alguns que têm TPB não reagem por exteriorizar ou atacar outros. Eles agem no seu interior, por transformar a sua raiva. A sua resposta dá-se com a auto-mutilação ou disturbios alimentares. Falei com alguns que se fizeram passar por fome numa tentativa de gerir os sintomas do transtorno ou de modo a deitar fora a auto-aversão.Há também aqueles de nós que auto-mutilaram profundamente o suficiente, que causaram danos permanentes a si próprios e que requerem múltiplas cirurgias corretivas.

Assim, a pergunta permanece - o que causa esta condição? Como explica a teoria, um frágil senso de si próprio, tal como os outros sintomas que vêm do desenvolvimento do transtorno, existem devido à combinação de duas coisas: um temperamento sensível e um ambiente (viciado) que invalida o sujeito.
No processo de crescimento, quem possui um temperamento muito sensível, a resposta emocional  a qualquer estimulo dado é muito maior do que aconteceria numa pessoa dita «normal». Isto nem sempre é uma coisa má: na verdade, aqueles que têm um temperamento sensível, são pessoas frequentemente muito mais empáticas e criativas. Eles podem tornar-se grandes humanitários, terapeutas, reformadores e artistas, por exemplo. Alguns possuem qualidades que parecem boas demais para esta terra, e são muito mais abertos a experiências espirituais.

Em alguns casos, os pais entendem que estas crianças são de facto, especiais, e que devem ser estimuladas de um modo diferente. Nestes casos, quem tem um temperamento sensivel pode ser capaz, desde a mais tenra idade, de desenvolver-se em todo o seu potencial. Mas a sociedade tenta geralmente endurecer aqueles que têm um temperamento sensível. Como criança, todas as minhas emoções eram intensas. Lembro-me de estar deitada no chão, chorando, enquanto ouvia as notas de uma sinfonia no leitor de cassetes.

A maioria de nós fez o nosso melhor para esconder a sua extrema sensibilidade, dos nossos cuidadores. Os meus sentimentos sempre foram mais facilmente magoados, do que os outros. Muitos de nós sentiram-se constantemente incompreendidos e negligenciados. Na escola, optavamos por nos sentarmos sózinhos para almoçar, visto que era dificil estarmos com outras crianças. Alguns aprenderam que a única maneira de lhes prestarem atenção era por darem respostas fortes, de uma forma dramática. Em crianças com TPB, estas não são apenas formas de tentarem ser perturbadores ou de causar destruição. Estas crianças têm uma necessidade profunda de serem compreendidas e validadas. Se o forem, então, florescerão.

Explicado o profundo vazio

A sabedoria convencional diz que os cuidadores devem responder com firmeza às crianças. É dito às crianças altamente sensiveis para «se deixarem de coisas» e para «superarem isso». Infelizmente, isso invalida a pessoa até o seu nucleo. O efeito é que é «puxado o tapete» de debaixo delas. Como criança sensivel e profundos sentimentos, se lhes é dito que não podem ser assim, então a mensagem que estas recebem é que não podem ser elas mesmas. Então, se não podem ser elas mesmas, o que lhes resta? Praticamente nada. Resta apenas o vazio.

Quem tem TPB gasta a sua vida tentando agarrar-se ao que são, enquanto os outros os negam. Eles aprendem que não podem confiar nas suas próprias experiências, pensamentos, sentimentos, visto que lhes foi dito vez após vez que eles estavam errados. Na altura que entram na adolescência, ou inicio da idade adulta, estas pessoas são tão desgastadas e emocionalmente feridas que já não são capazes de esconder a sua sensibilidade. Eles não conseguem esconder por muito tempo os sintomas. Assim, as outras pessoas começam a ver o comportamento e os sintomas do TPB, que realmente se começa a manifestar.

Para nós, o primeiro passo para a recuperação é reconhecer e gerir os comportamentos que tomamos para nos protegermos e para lidar com a vida. À medida que continua,  torna-se um enorme alivio não experimentar tais emoções intensas todo o tempo. Mas o vazio ainda precisa de ser preenchido, e o senso de si próprio ainda deve ser reforçado. Isto leva tempo e muito trabalho. Mas também é um trabalho gratificante e por vezes, divertido. È quando nos redescobrimos a nós próprios,  de relaxar em quem somos, de estabelecer limites e de nos sentirmos livres para sermos nós próprios, talvez, pela primeira vez na vida.

Imagem de si próprio

Um sintoma importante do TPB, é um senso de si próprio instável. Não temos certezas nenhumas de quem somos e se podemos confiar no nosso mecanismo interno de resolução de problemas. Encontramo-nos em situações que não queremos, mas sentimo-nos impotentes de modo a dar-lhe um fim.

Novamente, esta instabilidade é dificil perceber, a menos que tenha experimentado. Imagine que os seus pensamentos, percepções, valores, ideais e formas de resolver problemas mudando dentro de si constantemente, de situação para situação. È como se fosse um astronauta flutuando no espaço, sem rumo, sempre tentando agarrar a ponta de uma corda da realidade. Temos tendencia a ser reactivos, a tomar decisões em cima do joelho, geralmente baseadas no nosso humor instável. Outras vezes definimonos através da adoção e descarte de um «sistema» de crenças, tais como as encontradas em religiões ou em grupos de auto-ajuda. Muitas vezes, nós imitamos os ideiais e os hábitos dos outros, procurando uma «auto-imagem» em que possamos caber. Isto normalmente não é feito a um nível consciente. Nós somos altamente susceptiveis à aprovação e julgamento de outros. Por outro lado, vivemos com medo de reprovação da parte daqueles que amamos. Acreditamos que é normal vivermos assim a vida, porque sempre a vivemos assim.

O senso de si mesmo instável,  sentimentos de vazio, e tentativas frenéticas para evitar o abandono, controlam os nossos relacionamentos e moldam as nossas experiências de vida. Considere o bebé que sente ter uma identidade em comum com a sua mãe. Quando a mãe está por perto, o bebé está calmo e contente, olha para a mãe, brinca com os seus brinquedos, ri-se e pratica a sua fala. Quando a mãe está fora do alcance da sua vista, como desaparecendo ao virar da esquina, o bebé rapidamente torna-se agitado e muito triste, e cedo começa a chorar desesperadamente pela mãe.

Esta ansiedade atormenta a vida de uma pessoa com TPB. Você achega-se a alguém. Mal deixam a sua vista, e você rapidamente se sente angustiado, como se estivesse apartado do mundo inteiro. Tudo o que é significativo foi-se embora, e você se sente completamente vazio e sózinho. O que na verdade é uma ausência razoável e temporária, você o sente como um abandono completo e total. Nenhuma garantia do contrário parece diminuir os sentimentos angustiantes. Nós não conseguimos recordar dos sentimentos de amor ou conexão. È por isto que, uma vez separados, nós podemos mandar-lhe mensagens de um modo frenético, ou mandar-lhe um email, ou telefonar-lhe. Estamos a tentar reconectar consigo - para nos tranquilizarmos e termos certezas de novo.

Dada essa necessidade intensa de reconexão, porque ficamos tão irritados tão rapidamente com o objecto do nosso afecto? O nosso senso de si próprio é tão frágil, e tão facilmente ameaçado. Embora sintamos um medo profundo de abandono, criticas reais e percebidas são igualmente desoladoras. Nós tentaremos, a todo o custo, defender-nos a nós próprios, independentemente das consequências, porque percebemos que o custo de não nos defendermos  é a aniquilação total do nosso «Eu».

Enquanto que precisamos que os outros nos definam, também precisamos de constante validação. Se puxarem demasiado por nós, embora pareça que não o tenham feito, nós sentimos uma dor enorme, até parecendo que podemos morrer dessa dor excruciante. E essa dor não é apenas medo, é uma dor real. Nós geralmente experienciamos dor emocional a um nível que a maioria dos humanos nem imagina.

Uma grande parte do trabalho de recuperação passa por defenir um senso de si próprio «autentico» e descobrir formas saudáveis de fazer com que as nossas necessidades sejam atendidas. Ao longo do tempo, nós aprendemos como e quando fazer valer as nossas necessidades e as formas adequadas de cuidar de nós mesmos.

Para nosso grande alívio, nós deixamos de nos sentir tão carentes todo o tempo. A vergonha que chegamos a sentir é substituida por uma confiança crescente. Aprendemos também a validar os nossos sentimentos, pensamentos, ideais, e paramos de nos culpar a nós mesmos e aqueles que amamos, nos desafios e decepções inevitáveis da vida. (...)


quinta-feira, dezembro 03, 2009

Alvaro de Campos - Excerto de Esta Velha Angústia





«O grito»
Edward Munch








«Esta velha angústia,
Esta angústia que trago há séculos em mim,
Transbordou da vasilha,
Em lágrimas, em grandes imaginações,
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.

Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não: é este estar-entre,
Este quase,
Este poder ser que...,
Isto.

Um internado num manicómio é, ao menos, alguém,
Eu sou um internado num manicómio sem manicómio.
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos:
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não são sonhos.
Estou assim...

Pobre velha casa da minha infância perdida!
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Que é do teu menino? Está maluco.
Que é de quem dormia sossegado sob o teu tecto provinciano?
Está maluco.
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.


(...)»

16 - 6 - 1934
In Poesia , Assírio & Alvim, ed. Teresa Rita Lopes, 2002

segunda-feira, novembro 30, 2009

Dr Lelland - acerca do Transtorno de Personalidade Borderline

A experiencia Borderline

Imagine que se depara com uma pequena tensão - um pneu furado, uma pia entupida, ou um desacordo trivial com o seu conjuge, amigo, amante, filho,etc. Em vez de encontrar uma solução aceitável, a sua mente entra em pânico. Desenvolve-se uma sensação de desconforto,  possivelmente no estomago ou peito. Sentimentos de ansiedade complicam o crescente sentimento de intranquilidade e inquietação. Ísto é seguido por um agravamento progressivo da raiva - tornando-se eventualmente uma raiva tão grande que o esmaga - mesmo que entenda que é excessivo. Nos próximos minutos a horas, outras sensações negativas fluem - incluindo memórias de mágoas do passado - chegando ao ponto de  estar praticamente a ter todas as emoções ruins que um ser humano pode sentir.

Sente-se preso e vulnerável. As suas defesas psicológicas são oprimidas por uma dor emocional insuportável. Sente-se deprimido. Encontra-se incapaz de lidar com a situação que os seus níveis de´pânico aumentam na escala. Perde a percepção apropriada da realidade - chegando a  conclusões erradas num esforço inutil de entender o sentido do que lhe está a acontecer. À medida que a dor emocional continua a intensificar-se, o sistema nervoso cria sensações bizarras, tal como a sensação de vazio, dormência ou irrealidade. Torna-se cada vez mais incapaz de ter um pensamento racional à medida que o pânico continua a piorar.

Agora, a sua mente tenta, de um modo desesperado,  encontrar uma forma de libertar-se da dor, e procura soluções. Começa a recordar-se de actividades do passado que o faziam sentir-se melhor. Depois que um método é encontrado, a sua mente obriga-o a exercer essa actividade a um ponto auto-destrutivo - resultando  num «salvamento» bioquimico. Os seus quimicos cerebrais são libertos e param a dor, permitindo-o voltar a sentir-se «normal» de novo.

Mas como pode alguma vez sentir-se normal de novo, sabendo que tal horrivel experiência irá voltar? Como pode sentir-se normal de novo, quando os seus comportamentos auto-destrutivos e inapropriados são testemunhados por familia, amigos, empregados e/ou colegas de trabalho? Como pode sentir-se normal de novo quando tais comportamentos resultam em problemas financeiros, interpessoais, fisicos ou legais?
Para aqueles que não são atingidos com o transtorno de personalidade borderline - este é um pesadelo que esperamos que nunca aconteça conosco. Os Borderlines experienciam isto vez após vez - especialmente quando confrontados com o stress. Embora individualmente possam sentir os sintomas de modo relativamente diferente, estes horriveis sentimentos descritos acima (a chamada disforia) intrometem-se frequentemente na vida de um Bordeline.

Os Borderlines quase farão qualquer coisa para fazer com que a disforia vá embora. A impulsividade e auto-destruição são esforços apara mandar a disforia embora. Alguns, especialmente aqueles que sofrem muito severamente, auto- mutilam-se  durante o periodo de disforia. A auto-mutilação é indolor em si (os cortes não doem), mas mesmo assim aliviam a disforia.
Os Borderlines também sofrem frequentemente de flutuações de humor intensas e imprevisiveis que podem causar periodos de disforia, mesmo que não existam causas para stress. Estas flutuações paralisam os esforços de um paciente em ter uma vida feliz. Os Borderlines são vitimas de uma doença extremamente dolorosa.

Tal como as vitimas de epilepsia, distrofia muscular e neurofibromatose, as vitimas de TPB também não pediram, mereceram ou causaram a sua aflição. Os sintomas podem ser tão desagradáveis para aqueles que interagem com os Borderlines, que os sentimentos de empatia e compreensão podem ser dificeis ou impossiveis de sentir. Os Borderlines querem desesperadamente ser amados, mas a sua doença torna-os por vezes impossiveis de amar. Estas pessoas são aterrorizadas por medo de abandono, mas mesmo assim são impotentes em impedir que a doença de destruia todos os seus relacionamentos.

Esta é a experiência Bordeline.

Os factos

Os factores genéticos são importantes - o TPB tem tendência para ocorrer nas familias. O risco de desenvolver TPB é seis vezes maior quando um familiar próximo tem o transtorno. Num estudo entre gemeos identicos, os investigadores descobriram que muitos traços da personalidade são geneticamente determinados. Existe também uma associação entre traços de personalidade e grupo sanguineo ( chamados grupos de sangue antigeneos).

Os Borderlines geralmente também sofrem de outros problemas como o sindrome pré-menstrual, depressão, hipotiroidismo, deficiência de Vitamina B12, outros transtornos de personalidade, ansiedade, disturbios alimentares, e abuso de substâncias. A inteligência não é afectada por este transtorno, mas a habilidade de organizar e estruturar o tempo pode ser severamente prejudicada. Ñão há associação com a Esquizofrenia.
Enquanto que muitos Borderlines sofreram de abuso ou de negligência durante a infância, alguns desenvolveram o transtorno por ferimentos na cabeça, epilepsia ou infecções cerebrais. Incesto e perda precoce dos pais estão comummente associadas ao TPB.

 Os factos que indicam uma origem médica desde transtorno são impressionantes: vários estudos demonstram que as ondas cerebrais são frequentemente anormais. Exames neurofisiológicos mostram anormalidades. A interpretação dos sons é prejudicada. A memória e a visão são prejudicadas. A função glandular pode ser anormal. O sono é anormal. A resposta a alguns medicamentos é bizarra.Por exemplo, quando injectada intravenosamente, a procaína  normalmente provoca sonolência, mas no Borderline causa disforia. Se o TPB fosse exclusivamente uma doença emocional, porque estariam presentes estas anormalidades médicas?

Os Borderlines têm, provavelmente, anormalidades com o neurotransmissor serotonina - um quimico cerebral incrivelmente importante. Problemas de serotonina podem causar ansiedade, depressão, transtornos de humor, percepção errada da dor, agressividade, alcoolismo, transtornos alimentares e impulsividade. O excesso de serotonina pode reduzir estes comportamentos.

Deficiências nos níves de serotonina podem causar muitos problemas, especialmente um comportamento suicida. Aumentam o  risco de acções auto-destrutivas ou impulsivas durante uma crise. Os suicidios mais violentos (enforcamento, afogamento, etc.) são cometidos por pacientes com baixos níveis no metabólito de serotonina no liquido espinhal. Naqueles que tentaram o suicidio sem sucesso, 2% estarão provavelmente mortos em um ano. Se o nível de metabólito de serotonina for baixo no cérebro, o risco aumenta para 20%.

Tratamento

Devido aos novos desenvolvimentos da medicina, os Borderlines podem agora ser tratados e muitas vezes curados. A fluoxetina (Prozac) usualmente pára a maior parte das flutuações de humor em poucos dias. É, na minha opinião, um grande avanço para os Borderlines, tal como a insulina é para os diabéticos. Os Borderlines geralmente vêm-se como sendo  profanos. Eu digo frequentemente aos meus pacientes que eles não o são, mas sim que o seu cérebro está doente. Uma vez que este conceito é entendido, o paciente Borderline sente geralmente um enorme senso de alívio. Eles precisam saber que têm valor como seres humanos. Sentimentos de desespero são geralmente subtituidos por optimismo e motivação. Quando o Prozac pára as flutuações de humor, e o paciente começa a perceber que está mais feliz, uma vida com mais sucesso torna-se possivel.

Todos os Borderlines precisam de aconselhamento psicológico. É quase impossivel viver por anos como Borderline e não necessitar de ajuda psicológico. Enquando que os problemas subjacentes estão na estrutura do cérebro, o Borderline é deixado com uma vida cheia de más experiências e com insuficientes habilidades psicológicas para recuperar.

Nenhuma medicação devia ser dada sem uma supervisão médica adequada. Isto é particularmente verdade devido aos medicamentes que são usados para tratar este transtorno. Alguns medicamentos pioram os sintomas do transtorno, especialmente a amitriptilina (Elavil) e o Alprazolam (Xanax). Possivelmente um terço dos Borderlines sofre de hipotiroidismo - apesar de uma análise TSH com valores normais. Eles podem precisam de medicação para a tiroide.

O antidepressivo fluoxetina (Prozac), que aumenta os níveis de serotonina, elimina virtualmente as flutuações de humor. Sentimentos de raiva, vazio, aborrecimento são geralmente eliminados ou reduzidos. A maioria dos Borderlines que tratei, consideram o Prozac um milagre. Enquanto que alguns precisam da medicação indefinidamente, muitos têm sido capazes de parar a medicação após um ano sem retornarem as flutuções de humor. Efeitos colaterais apenas raramente são um problema significativo.

Os neurolépticos provaram ser eficazes. São extraordinariamente uteis para tratar a disforia e a psicose, e podem ser preventivos quando o Borderline está a passar por um momento stressante. Parece que conseguem por «travões» nos pensamentos, quando eles aparecem. Estes devem apenas ser usados quando precisos, tal como quando se usa  um antiácido para a azia. Estes medicamentos podem ser eficazes em pequenas doses, e devem ser tomados com grande precaução.

Embora a medicação possa ajudar a tratar alguns sintomas, o cérebro está realmente danificado. Depois de um AVC, o cérebro precisa de terapia para deixar que as áreas saudáveis do cérebro possam controlar as zonas danificadas. O mesmo acontece com a recuperação de um Borderline. Penso que o cérebro precisa ser retreinado. 
 (...)

Às vezes, sintomas do envolvimento do 'lobulo temporal' ( similar à epilepsia) complicam o transtorno. Os sintomas mais comuns são sentimentos de desconhecimento, irrealidade, e dormência de partes do corpo. Estes sintomas são mais comuns debaixo de stress, depressão, disforia severa. Estes podem ser tratados com Carbamazepina ( Tegretol) que é usado no tratamento de epilepsia.

Os Borderlines são VITIMAS - eles não causaram a sua doença. Ele não querem a sua doença. Eles querem ser tratados e se possivel curados. Eles merecem essa oportunidade.

O Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH - USA) tem sido a fonte mais influente de estudo imparcial e informação relacionada com a biologia por detrás do transtorno de personalidade borderline.

Estudos no campo, como aqueles feitos pelo Dr. Cowdry e Gardner em 1987 mostraram a eficácia do Tegretol (carbamazepina) e do neurolépticos, e os perigos do Xanax (Alprazolam). Este artigo foi publicado em Fevereiro de 1988 nos Arquivos de Psiquiatria Geral. Um artigo subsequente mostrou que as conclusões tiradas de que níveis baixos de serotonina no TPB eram erróneas. Que estão associados ao suicidio, não ao TPB.

O Dr. Cowdry foi o director interno do NIMH no ultimos anos, e estará provavelmente envolvido em novas pesquisas.

Permissão por Leland M. Heller, M.D.





domingo, novembro 22, 2009


«Não é o tédio a doença do aborrecimento de nada ter que fazer, mas a doença maior de se sentir que não vale a pena fazer nada»

Fernando Pessoa


sexta-feira, novembro 06, 2009


«Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo,
qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.»




quarta-feira, outubro 28, 2009

Letra da Música de António Variações - «Estou Além»

«Não consigo dominar
Este estado de ansiedade!
A pressa de chegar
P'ra não chegar tarde !

Não sei de que é que eu fujo...
Será desta solidão?
Mas porque é que eu recuso
Quem quer dar-me a mão?

Vou continuar a procurar
A quem eu me quero dar
Porque até aqui eu só:

Quero quem,
Quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci ...


Esta insatisfação...
Não consigo compreender !
Sempre esta sensação
Que estou a perder...

Tenho pressa de sair,
Quero sentir ao chegar ,
Vontade de partir,
P'ra outro lugar ..

Vou continuar a procurar
O meu mundo
O meu lugar
Porque até aqui eu só:

Estou bem
Aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou...»

sexta-feira, outubro 23, 2009

Não, não é cansaço...

«Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
E um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...

Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.

Não. Cansaço por quê?
É uma sensação abstrata
Da vida concreta —
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...

Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.


(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)


Porque oiço, vejo.
Confesso: é cansaço!... »




Álvaro de Campos, in "Poemas"

Heterónimo de Fernando Pessoa

domingo, outubro 11, 2009

Como se forma o transtorno de Personalidade Borderline numa criança


Classificação do TPB no DSM.IV

No DSM.IV(Manual de Diagnóstico e Estatística das Doenças Mentais) da Associação Norte-Americana de Psiquiatria.

Um padrão invasivo de instabilidade dos relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afetos e acentuada impulsividade, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, como indicado por cinco (ou mais) dos seguintes critérios:

Critérios Diagnósticos para F60.31 - 301.83 Transtorno da Personalidade Borderline
(1) esforços frenéticos para evitar um abandono real ou imaginado.
Nota: Não incluir comportamento suicida ou automutilante, coberto no Critério 5
(2) um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização
(3) perturbação da identidade: instabilidade acentuada e resistente da auto-imagem ou do sentimento de self
(4) impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais à própria pessoa (por ex., gastos financeiros, sexo, abuso de substâncias, direção imprudente, comer compulsivamente).
Nota: Não incluir comportamento suicida ou automutilante, coberto no Critério 5
(5) recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante
(6) instabilidade afetiva devido a uma acentuada reatividade do humor (por ex., episódios de intensa disforia, irritabilidade ou ansiedade geralmente durando algumas horas e apenas raramente mais de alguns dias)
(7) sentimentos crônicos de vazio
(8) raiva inadequada e intensa ou dificuldade em controlar a raiva (por ex., demonstrações freqüentes de irritação, raiva constante, lutas corporais recorrentes)
(9) ideação paranóide transitória e relacionada ao estresse ou severos sintomas dissociativos

Características do Ego e do Comportamento
Patologicamente podemos dizer que a pessoa portadora de Personalidade Borderline, embora seja bem menos perturbada que os psicóticos, são muito mais complexas que os neuróticos, embora não apresentem deformações de caráter típicas das personalidades sociopáticas. Na realidade, o Borderline tem séria limitação para usufruir as disponibilidades de opção emocional diante dos estímulos do cotidiano e, por causa disso, pequenos estressores são capazes de enfurecê-lo.

São indivíduos sujeitos a acessos de ira e verdadeiros ataques de fúria ou de mau gênio, em completa inadequação ao estímulo desencadeante. Essas crises de fúria e agressividade acontecem de forma inesperada, intempestivamente e, habitualmente, tem por alvo pessoas do convívio mais íntimo, como os pais, irmãos, familiares, amigos, namoradas, cônjuges, etc.
Embora o Borderline mantenha condutas até bastante adequadas em grande número de situações, ele tropeça escandalosamente em certas situações triviais e simples. O limiar de tolerância às frustrações é extremamente susceptível nessas pessoas.

Este curto-circuito agressivo expresso pelo Borderline, sob forma de crise, pode desempenhar várias funções psicodinâmica, como por exemplo, aliviar o excedente de tensão interna, impedir maior conflito e frustração, ressaltar a presença do paciente, ainda que de forma desagradável e ineficaz, melhorar a auto-afirmação, obrigar o ambiente a reconhecer sua importância, ainda que para se lhe opor ou confrontar.

O Borderline também está sujeito a exuberantes manifestações de instabilidade afetiva, oscilando bruscamente entre emoções como o amor e ódio, entre a indiferença ou apatia e o entusiasmo exagerado, alegria efusiva e tristeza profunda. A vida conjugal com essas pessoas pode ser muito problemática, pois, ao mesmo tempo em que se apegam ao outro e se confessam dependentes e carentes desse outro, de repente, são capazes de maltratá-lo cruelmente.

Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Borderline se esforçam freneticamente para evitarem um abandono, seja um abandono real ou imaginado. A perspectiva da separação, perda ou rejeição podem ocasionar profundas alterações na auto-imagem, afeto, cognição e no comportamento. O Borderline vive exigindo apoio, afeto e amor continuadamente. Sem isso, aflora o temor à solidão ou a incapacidade de ficar só, em presença de si mesmo.

Esses indivíduos são muito sensíveis às circunstâncias ambientais e o intenso temor de abandono, mesmo diante de uma separação exigida pelo cotidiano e por tempo limitado, são muito mal vivenciadas pelo Borderline. Esse medo do abandono está relacionado a uma grande intolerância à solidão e à necessidade de ter outras pessoas consigo. Seus esforços frenéticos para evitar o abandono podem incluir ações impulsivas, tais como comportamentos de auto-mutilação ou ameaças de suicídio.

A tendência a alguma forma de adição, como o álcool, remédios, drogas, ou mesmo o trabalho desenfreado, o sexo insistentemente perseguido, o esporte, alguma crença, etc., refletem uma busca desenfreada de "um algo mais" que lhe complete e lhe dê sossego.

Segundo Marco Aurélio Baggio, quem melhor descreve o Ego desses pacientes, os Borderlines são pouco capazes de se empenharem numa tarefa com persistência e acuidade. Desistem do esforço e circulam em torno daquilo que é preciso fazer mas não fazem. Em relação ao contacto inter-pessoal, eles têm uma tendência a atacar o outro do qual dependem, como forma de camuflar a grande necessidades de dependência. São habilidosos em estimular o outro a lhes propiciar aquilo que precisam, mas recebem tudo o que lhe fazem como quem nada deve.

A personalidade do Borderline é uma peça de teatro onde os atores coadjuvantes estão sempre esperando ele, o ator principal. Trata-se de um ego que não tolera o vazio, a separação, a ausência, não sabe superar com equilíbrio os conflitos.


Características de Personalidade e Comportamento
Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Borderline têm um padrão de relacionamentos instável e, ao mesmo tempo, intenso. Na vida a dois, eles podem desenvolver intenções de protetores ou amantes já no primeiro ou no segundo encontro, exigir que passem muito tempo juntos e compartilhem detalhes extremamente íntimos ainda na fase inicial de um relacionamento. Essas pessoas podem sentir empatia e carinho por outras pessoas, entretanto, tais sentimentos são frutos exclusivos da expectativa de que a outra pessoa estará lá para atender suas próprias necessidades de apoio, carinho e atenção.

Pode haver no Borderline, uma rápida passagem da idealização elogiosa para sentimentos de desvalorização, por achar que a outra pessoa não se importa o suficiente com ele, não dá o bastante de si, não se mobiliza o suficiente. Portanto, são insaciáveis em termos de atenção. Eles são inclinados a mudanças súbitas em suas opiniões sobre os outros.

A inconstância do Borderline se observa também em relação ao juízo que tem de si mesmo e de sua vida. Ele pode ter súbitas mudanças de opiniões e planos acerca de sua carreira, sua identidade sexual, seus valores e mesmo sobre os tipos de amigo ideal.

Os indivíduos com este transtorno exibem impulsividade em áreas potencialmente prejudiciais para si próprios, tais como nos esportes, nos jogos de azar, no consumo de tabaco, álcool, drogas, etc. Eles podem jogar, fazer gastos irresponsáveis, comer em excesso, abusar de substâncias, engajar-se em sexo inseguro ou dirigir de forma imprudente. As pessoas com Transtorno da Personalidade Borderline podem apresentar comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou comportamento auto-mutilante .

O suicídio completado costuma ocorrer em 8 a 10% desses indivíduos impulsivos, e os atos de auto-mutilação também impulsivos, como por exemplo, cortes ou queimaduras também são comuns. Esses atos auto-destrutivos geralmente são precipitados por ameaças de separação ou rejeição, por expectativas de que assumam maiores responsabilidades ou mesmo por frustrações banais.

Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Borderline podem apresentar instabilidade afetiva, devido a uma acentuada reatividade do humor, como por exemplo, euforia ou depressão (disforia) episódica, irritabilidade ou ansiedade, em geral durando apenas algumas horas. O humor disfórico (euforia ou depressão) dos indivíduos com Transtorno da Personalidade Borderline muitas vezes é acompanhado por períodos de raiva, pânico ou desespero.

Essas pessoas ficam facilmente entediadas, não aceitam bem a constância ou mesmo a serenidade, e podem estar sempre procurando algo para fazer. Os sentimentos agressivos dessas pessoas não costumam ser dissimulados e eles freqüentemente expressam raiva intensa e inadequada ou têm dificuldade para controlar essa raiva. Eles podem exibir extremo sarcasmo, persistente amargura ou explosões verbais. Por outro lado, essas expressões de raiva freqüentemente são seguidas de vergonha e culpa e contribuem para o sentimento de baixa auto-estima.


Curso e Prevalência
O Transtorno da Personalidade Borderline é diagnosticado predominantemente em mulheres, as quais compões cerca de 75% dos casos. Quanto à prevalência, estima-se em cerca de 2% da população geral, ocorrendo em cerca de 10% dos pacientes de consultórios psiquiátricos e em cerca de 20% dos pacientes psiquiátricos internados. Entre os portadores de Transtornos da Personalidade em geral, a prevalência do Transtorno da Personalidade Borderline varia de 30 a 60%.

O curso do Transtorno da Personalidade Borderline é instável, começando esse distúrbio no início da idade adulta, com episódios de sério descontrole afetivo e impulsivo. O prejuízo resultante desse transtorno e o risco de suicídio são maiores nos anos iniciais da idade adulta e diminuem gradualmente com o avanço da idade. Durante a faixa dos 30 e 40 anos, a maioria dos indivíduos com o transtorno adquire maior estabilidade em seus relacionamentos e funcionamento profissional.

Também se sabe que o Transtorno da Personalidade Borderline é cerca de cinco vezes mais freqüente entre parentes biológicos em primeiro grau também com o transtorno do que na população geral.

QUADRO CLÍNICO

A escola americana põe ênfase na labilidade do Ego ou do self e na difusão da identidade. Melita Schmideberg admite que o Borderline apresenta transtornos em quase todas as áreas da pessoalidade, principalmente nas relações interpessoais, na profundidade (qualidade) dos sentimentos, na identificação e na empatia, na atitude social, no controle da vontade (volição), na capacidade para o trabalho, na necessidade de prazer, na vida sexual, no controle das emociones, na vida das fantasias, na elaboração e valoração dos ideais e no planejamento das metas da vida.

Suas relações com o objeto são superficiais, carecendo de profundidade de sentimentos, de constância, empatia e consideração pelos demais. Também apresenta transtornos de caráter de nível variado e os sintomas clínicos são: 

1. - Angustia

É crônica e difusa. Trata-se de um afeto contínuo e surdo mas que, no obstante, pode se manifestar como uma crise de angústia aguda e com sintomas somáticos correspondentes. Pode sobrevir uma crise histérica com comprometimento de todas as funções psíquicas, juntamente com manifestações somáticas variadas, tais como vertigem, taquicardia e outros característicos do Transtorno de Ansiedade Aguda.

A desrealização e a despersonalização aparecem como extremos dessas crises, também acompanhadas de sintomas somáticos. É uma angústia ligada à perda de sentido, tal como foi observada por Freud quando diante de perspectivas ou ameaças de separação.

2. - Incapacidade para sentir

Às vezes o paciente experimenta a consciência de um vazio afetivo, despersonalização e incapacidade para sentir emoções. Outras vezes encenam episódios do tipo histérico, com reações emocionais exageradas, ingerem álcool ou drogas, cometem delitos ou têm relações sexuais patológicas para libertar-se da sensação de vazio existencial.

Ainda que não consigam experimentar emoções genuínas, também não podem suporta-las caso existam. Protegem-se contra os sentimentos mantendo as relações em um nível superficial ou mudando freqüentemente de trabalho, de amigos ou do lugar onde vivem.

Isso pode explicar a grande instabilidade dos pacientes Borderlines.

Schmideberg disse que os Borderlines são, fundamentalmente, não sociais e alguns, declaradamente anti-sociais. Uma das manifestações da instabilidade é a instabilidade afetiva, que pode perturbar suas relações sociais.

No plano ocupacional também se mostram instáveis. Mesmo que esses pacientes tenham condições intelectuais normais, falta-lhes capacidade para a concentração, para a perseverança e para o desejo para um esforço mais firme. Outros fatores que contribuem para a instabilidade ocupacional são sua baixa tolerância à frustração, hipersensibilidade às críticas e a expectativa de conseguir recompensas totalmente desproporcionais. Também deve ser destacada a incapacidade para os Borderlines aceitar as regras e a rotina. Por tudo isso eles acabam sendo despedidos de seus empregos ou que eles mesmos pedem demissão. 

3. - Depressão

A depressão do Borderline se caracteriza, basicamente, por sentimentos de vazio e solidão. A diferença do que ocorre no verdadeiro depressivo, no qual existe medo da destruição do objeto amado, no caso do Borderline ha explosões de ira ou raiva contra o objeto considerado frustrante. 

4. - Intolerância à solidão

A modalidade de relação com o objeto é do tipo anaclítica (procure por Depressão Anaclínica). A intolerância a estar só se manifesta como um afã de prender-se vorazmente, através da voz ou da presença física do outro, ou em determinados casos por intermédio do objeto droga, álcool ou alimento, segundo seja a adicção, como tentativa frustrada de supressão da falta. Na realidade, toda tensão de separação é intolerável ao Borderline,  produzindo as condutas de aderência exagerada ao objeto.

5. - Anedonia

É a incapacidade de sentir prazer (veja). Existe sempre no paciente Borderline uma insatisfação permanente e manifesta, uma frustração constante e os objetivos de prazer que pretendem nunca chegam consegui-los, são para eles, inalcançáveis. Ou, pior ainda, quando são alcançados, perdem valor imediatamente. No pacientes Borderline a tendência a evitar o desprazer se faz mais forte que a busca do prazer.

6. - Neurose poli-sintomática

O paciente borderline pode apresentar dois ou mais dos seguintes sintomas:

a) Fobias múltiplas, geralmente graves, especialmente a agorafobia. A relação com o objeto está submetida à regulação da distância com mecanismos agorafóbicos e claustrofóbicos. Essas sensações associadas a tendências paranóides, originam serias inibições sociais.

b) Sintomas obsessivos-compulsivos. Normalmente esses sentimentos, muito repudiados pelo portador de TOC, são Ego Sintônicos no paciente Borderline, inclusive com tendência a racionalização.

c) Múltiplos sintomas de conversão (histéricos), geralmente crônicos.

d) Reações dissociativas (histéricas).

e) Transtornos de consciência,  Estados Crepusculares, fugas e amnésias.

f) Hipocondria e exagerada preocupação por a saúde e temor crônico a enfermar. Refere-se não só ao corpo, mas também à mente. Descrevem minuciosamente seu mal-estar, com reações e sensações esdrúxulas. É comum o medo de enlouquecerem.

g) Tendências paranóides com idéias deliróides persecutórias.

h) Descontrole dos impulsos. Este descontrole impulsivo pode ser ego diatônico ou ego sintônicos. O alcoolismo, drogadição, bulimia, compras descontroladas, cleptomania, são sintomas impulsivos comuns entre os Borderlines.

8. - Tendências sexuais não-normais (Parafilias)

Podem coexistir varias tendências em forma de fantasias ou de ações. As formas bizarras de sexualidade, principalmente as que manifestam agressão ou substituição primitiva dos fins genitais, tais como atitudes eliminatórias. Às vezes a homossexualidade pode funcionar como defesa contra a sensação e a ansiedade de abandono.

A homossexualidade costuma representar a busca de gratificação das necessidades orais. Pode também manifestar relações homossexuais sadomasoquistas e promíscuas.

9. - Episódios Psicóticos Breves

Aqui se incluem a desrealização e despersonalização. As idéias de auto-referência e os quadros paranóides predominam nesses Episódios Psicóticos Breves. As manifestações clínicas seriam: transtornos paranóides, depressões com idéias de suicídio, Episódios Maníacos, quadros de automutilação. Esses episódios agudos costumam ser reativos, normalmente à ruptura de algum vínculo 

10) Adaptação social

Existem várias possibilidades para o contacto social borderline. A evitação, por exemplo, acontece nos casos do borderline esquizóide e depressivo, mas o relacionamento interpessoal também pode ter características anti-sociais. Em geral, as relações interpessoais costumam estar prejudicadas e nas reações paranóides, tão comuns entre esses pacientes, a conduta social pode ser agressiva.


Para referir:
Excertos de Ballone GJ- Personalidade Borderline- in. PsiqWeb, Internet, disponível em http://virtualpsy.locaweb.com.br/www.psiqweb.med.br/, revisto em 2005.




sexta-feira, outubro 02, 2009

Porque muitas vezes este transtorno não é correctamente diagnosticado


«O que há em mim é sobretudo cansaço" - Àlvaro de Campos


"O que há em mim é sobretudo cansaço,
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas
Essas e o que falta nelas eternamente
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço... "

CE TV - Borderline Personality Disorder

domingo, agosto 30, 2009

Ser in/compreendido

Aqueles que são insanes, são verdadeiramente IN. Só quem não o é, é que não o sabe. IN, mas de INcompreensão, que é o que me custa mais. E as doenças mentais são isto mesmo. Quando alguém parte uma perna, «coitadinho, não pode subir as escadas» «coitadinho, vamos ajudá-lo a carregar as compras» «coitadinha, não consegue fazer as coisas em casa» «coitadinha, não consegue trabalhar». A história repete-se para um transplante de coração ou uma desregulação do pancreas a que as pessoas chamam as diabetes. Mas tudo se torna diferente quando alguém tem uma disfunção cerebral, ou melhor contando, uma doença mental... se for uma doença que se manisfeste intensamente, daquelas esquizofrenias graves, em que a pessoa precise de ir em camisa de forças para a casa de saúde, ai sim, tudo bem, mas se se tratar de uma depressão, de uma Bipolaridade, de um outro transtorno qualquer, então o caso muda de figura. Passamos do «coitadinho..», para «Indolente, que não quer ir trabalhar», «Desleixada que não faz sequer o jantar» ou « Aquele Imbecil...» entre outros termos deveras demolidores das mais baixas auto-estimas existentes à face da terra. Já o outro dizia «Eles nem sabem,nem sonham...» a dor que uma mente desregulada passa por ter este tipo de problemas. As pessoas que nunca passaram por isto nem imaginam o quanto dificil é manter-se vivo neste sistema, manter a esperança, lutar para sobreviver dia após dia...Se já dificil é para os que passam, se entenderem uns aos outros, quanto mais aqueles que têm nas suas mãos o poder para decidir e lutar e seguir em frente com as suas vidas. Quem (s)atura (d')uma doença mental sente-se triste e incompreendido, e desejando muito que outros lhe dê algum conforto e alivio - afinal, é o que todo o ser humano deseja, mas este apenas num grau muito mais desesperado. Pessoalmente, sei que o ser humano enquanto imperfeito é preconceituoso, e ponto final.