segunda-feira, novembro 30, 2009

Dr Lelland - acerca do Transtorno de Personalidade Borderline

A experiencia Borderline

Imagine que se depara com uma pequena tensão - um pneu furado, uma pia entupida, ou um desacordo trivial com o seu conjuge, amigo, amante, filho,etc. Em vez de encontrar uma solução aceitável, a sua mente entra em pânico. Desenvolve-se uma sensação de desconforto,  possivelmente no estomago ou peito. Sentimentos de ansiedade complicam o crescente sentimento de intranquilidade e inquietação. Ísto é seguido por um agravamento progressivo da raiva - tornando-se eventualmente uma raiva tão grande que o esmaga - mesmo que entenda que é excessivo. Nos próximos minutos a horas, outras sensações negativas fluem - incluindo memórias de mágoas do passado - chegando ao ponto de  estar praticamente a ter todas as emoções ruins que um ser humano pode sentir.

Sente-se preso e vulnerável. As suas defesas psicológicas são oprimidas por uma dor emocional insuportável. Sente-se deprimido. Encontra-se incapaz de lidar com a situação que os seus níveis de´pânico aumentam na escala. Perde a percepção apropriada da realidade - chegando a  conclusões erradas num esforço inutil de entender o sentido do que lhe está a acontecer. À medida que a dor emocional continua a intensificar-se, o sistema nervoso cria sensações bizarras, tal como a sensação de vazio, dormência ou irrealidade. Torna-se cada vez mais incapaz de ter um pensamento racional à medida que o pânico continua a piorar.

Agora, a sua mente tenta, de um modo desesperado,  encontrar uma forma de libertar-se da dor, e procura soluções. Começa a recordar-se de actividades do passado que o faziam sentir-se melhor. Depois que um método é encontrado, a sua mente obriga-o a exercer essa actividade a um ponto auto-destrutivo - resultando  num «salvamento» bioquimico. Os seus quimicos cerebrais são libertos e param a dor, permitindo-o voltar a sentir-se «normal» de novo.

Mas como pode alguma vez sentir-se normal de novo, sabendo que tal horrivel experiência irá voltar? Como pode sentir-se normal de novo, quando os seus comportamentos auto-destrutivos e inapropriados são testemunhados por familia, amigos, empregados e/ou colegas de trabalho? Como pode sentir-se normal de novo quando tais comportamentos resultam em problemas financeiros, interpessoais, fisicos ou legais?
Para aqueles que não são atingidos com o transtorno de personalidade borderline - este é um pesadelo que esperamos que nunca aconteça conosco. Os Borderlines experienciam isto vez após vez - especialmente quando confrontados com o stress. Embora individualmente possam sentir os sintomas de modo relativamente diferente, estes horriveis sentimentos descritos acima (a chamada disforia) intrometem-se frequentemente na vida de um Bordeline.

Os Borderlines quase farão qualquer coisa para fazer com que a disforia vá embora. A impulsividade e auto-destruição são esforços apara mandar a disforia embora. Alguns, especialmente aqueles que sofrem muito severamente, auto- mutilam-se  durante o periodo de disforia. A auto-mutilação é indolor em si (os cortes não doem), mas mesmo assim aliviam a disforia.
Os Borderlines também sofrem frequentemente de flutuações de humor intensas e imprevisiveis que podem causar periodos de disforia, mesmo que não existam causas para stress. Estas flutuações paralisam os esforços de um paciente em ter uma vida feliz. Os Borderlines são vitimas de uma doença extremamente dolorosa.

Tal como as vitimas de epilepsia, distrofia muscular e neurofibromatose, as vitimas de TPB também não pediram, mereceram ou causaram a sua aflição. Os sintomas podem ser tão desagradáveis para aqueles que interagem com os Borderlines, que os sentimentos de empatia e compreensão podem ser dificeis ou impossiveis de sentir. Os Borderlines querem desesperadamente ser amados, mas a sua doença torna-os por vezes impossiveis de amar. Estas pessoas são aterrorizadas por medo de abandono, mas mesmo assim são impotentes em impedir que a doença de destruia todos os seus relacionamentos.

Esta é a experiência Bordeline.

Os factos

Os factores genéticos são importantes - o TPB tem tendência para ocorrer nas familias. O risco de desenvolver TPB é seis vezes maior quando um familiar próximo tem o transtorno. Num estudo entre gemeos identicos, os investigadores descobriram que muitos traços da personalidade são geneticamente determinados. Existe também uma associação entre traços de personalidade e grupo sanguineo ( chamados grupos de sangue antigeneos).

Os Borderlines geralmente também sofrem de outros problemas como o sindrome pré-menstrual, depressão, hipotiroidismo, deficiência de Vitamina B12, outros transtornos de personalidade, ansiedade, disturbios alimentares, e abuso de substâncias. A inteligência não é afectada por este transtorno, mas a habilidade de organizar e estruturar o tempo pode ser severamente prejudicada. Ñão há associação com a Esquizofrenia.
Enquanto que muitos Borderlines sofreram de abuso ou de negligência durante a infância, alguns desenvolveram o transtorno por ferimentos na cabeça, epilepsia ou infecções cerebrais. Incesto e perda precoce dos pais estão comummente associadas ao TPB.

 Os factos que indicam uma origem médica desde transtorno são impressionantes: vários estudos demonstram que as ondas cerebrais são frequentemente anormais. Exames neurofisiológicos mostram anormalidades. A interpretação dos sons é prejudicada. A memória e a visão são prejudicadas. A função glandular pode ser anormal. O sono é anormal. A resposta a alguns medicamentos é bizarra.Por exemplo, quando injectada intravenosamente, a procaína  normalmente provoca sonolência, mas no Borderline causa disforia. Se o TPB fosse exclusivamente uma doença emocional, porque estariam presentes estas anormalidades médicas?

Os Borderlines têm, provavelmente, anormalidades com o neurotransmissor serotonina - um quimico cerebral incrivelmente importante. Problemas de serotonina podem causar ansiedade, depressão, transtornos de humor, percepção errada da dor, agressividade, alcoolismo, transtornos alimentares e impulsividade. O excesso de serotonina pode reduzir estes comportamentos.

Deficiências nos níves de serotonina podem causar muitos problemas, especialmente um comportamento suicida. Aumentam o  risco de acções auto-destrutivas ou impulsivas durante uma crise. Os suicidios mais violentos (enforcamento, afogamento, etc.) são cometidos por pacientes com baixos níveis no metabólito de serotonina no liquido espinhal. Naqueles que tentaram o suicidio sem sucesso, 2% estarão provavelmente mortos em um ano. Se o nível de metabólito de serotonina for baixo no cérebro, o risco aumenta para 20%.

Tratamento

Devido aos novos desenvolvimentos da medicina, os Borderlines podem agora ser tratados e muitas vezes curados. A fluoxetina (Prozac) usualmente pára a maior parte das flutuações de humor em poucos dias. É, na minha opinião, um grande avanço para os Borderlines, tal como a insulina é para os diabéticos. Os Borderlines geralmente vêm-se como sendo  profanos. Eu digo frequentemente aos meus pacientes que eles não o são, mas sim que o seu cérebro está doente. Uma vez que este conceito é entendido, o paciente Borderline sente geralmente um enorme senso de alívio. Eles precisam saber que têm valor como seres humanos. Sentimentos de desespero são geralmente subtituidos por optimismo e motivação. Quando o Prozac pára as flutuações de humor, e o paciente começa a perceber que está mais feliz, uma vida com mais sucesso torna-se possivel.

Todos os Borderlines precisam de aconselhamento psicológico. É quase impossivel viver por anos como Borderline e não necessitar de ajuda psicológico. Enquando que os problemas subjacentes estão na estrutura do cérebro, o Borderline é deixado com uma vida cheia de más experiências e com insuficientes habilidades psicológicas para recuperar.

Nenhuma medicação devia ser dada sem uma supervisão médica adequada. Isto é particularmente verdade devido aos medicamentes que são usados para tratar este transtorno. Alguns medicamentos pioram os sintomas do transtorno, especialmente a amitriptilina (Elavil) e o Alprazolam (Xanax). Possivelmente um terço dos Borderlines sofre de hipotiroidismo - apesar de uma análise TSH com valores normais. Eles podem precisam de medicação para a tiroide.

O antidepressivo fluoxetina (Prozac), que aumenta os níveis de serotonina, elimina virtualmente as flutuações de humor. Sentimentos de raiva, vazio, aborrecimento são geralmente eliminados ou reduzidos. A maioria dos Borderlines que tratei, consideram o Prozac um milagre. Enquanto que alguns precisam da medicação indefinidamente, muitos têm sido capazes de parar a medicação após um ano sem retornarem as flutuções de humor. Efeitos colaterais apenas raramente são um problema significativo.

Os neurolépticos provaram ser eficazes. São extraordinariamente uteis para tratar a disforia e a psicose, e podem ser preventivos quando o Borderline está a passar por um momento stressante. Parece que conseguem por «travões» nos pensamentos, quando eles aparecem. Estes devem apenas ser usados quando precisos, tal como quando se usa  um antiácido para a azia. Estes medicamentos podem ser eficazes em pequenas doses, e devem ser tomados com grande precaução.

Embora a medicação possa ajudar a tratar alguns sintomas, o cérebro está realmente danificado. Depois de um AVC, o cérebro precisa de terapia para deixar que as áreas saudáveis do cérebro possam controlar as zonas danificadas. O mesmo acontece com a recuperação de um Borderline. Penso que o cérebro precisa ser retreinado. 
 (...)

Às vezes, sintomas do envolvimento do 'lobulo temporal' ( similar à epilepsia) complicam o transtorno. Os sintomas mais comuns são sentimentos de desconhecimento, irrealidade, e dormência de partes do corpo. Estes sintomas são mais comuns debaixo de stress, depressão, disforia severa. Estes podem ser tratados com Carbamazepina ( Tegretol) que é usado no tratamento de epilepsia.

Os Borderlines são VITIMAS - eles não causaram a sua doença. Ele não querem a sua doença. Eles querem ser tratados e se possivel curados. Eles merecem essa oportunidade.

O Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH - USA) tem sido a fonte mais influente de estudo imparcial e informação relacionada com a biologia por detrás do transtorno de personalidade borderline.

Estudos no campo, como aqueles feitos pelo Dr. Cowdry e Gardner em 1987 mostraram a eficácia do Tegretol (carbamazepina) e do neurolépticos, e os perigos do Xanax (Alprazolam). Este artigo foi publicado em Fevereiro de 1988 nos Arquivos de Psiquiatria Geral. Um artigo subsequente mostrou que as conclusões tiradas de que níveis baixos de serotonina no TPB eram erróneas. Que estão associados ao suicidio, não ao TPB.

O Dr. Cowdry foi o director interno do NIMH no ultimos anos, e estará provavelmente envolvido em novas pesquisas.

Permissão por Leland M. Heller, M.D.





domingo, novembro 22, 2009


«Não é o tédio a doença do aborrecimento de nada ter que fazer, mas a doença maior de se sentir que não vale a pena fazer nada»

Fernando Pessoa


sexta-feira, novembro 06, 2009


«Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo,
qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.»