quinta-feira, janeiro 19, 2012

Ômega 3 no tratamento da depressão

«A suplementação com Ômega 3 melhora o controlo das emoções e do humor, prevenindo a depressão.
 O Ômega3 presente nos peixes, crustáceos e algas é um nutriente muito importante para as funções cerebrais, pois 60% do cérebro é constituído por gordura sendo que na sua maior parte de ácidos gordos Ômega 3.
  A deficiente ingestão desta gordura está associada a maior perda de memória do idoso, e a elevados níveis de sentimentos de angústia. No tratamento da depressão das crianças e dos adolescentes a toma de Ômega 3 mostrou ter a mesma, se não maior, eficácia terapêutica que os anti depressivos químicos.
  Durante a gravidez, a deficiente ingestão desta gordura está associada a menor QI verbal do filho e a suplementação com Ômega 3 melhora o desenvolvimento neurológico da criança.
   Nos bebês prematuros a sua suplementação melhora as capacidades cognitivas, sua suplementação pode ser recomendada durante a gestação e o aleitamento para suprir as necessidades acrescidas da mãe e do filho.
   Nos doentes com depressão sujeitos a tratamento farmacológico a toma de Ômega 3 (EPA e DHA) melhora o quadro clínico e os efeitos dos medicamentos, reduz a intensidade das manifestações da depressão, ansiedade, perturbações do sono e disfunção sexual, é um tratamento eficaz e muito bem tolerado na depressão.»

Fonte: http://www.tuasaude.com/omega-3-no-tratamento-da-depressao/



segunda-feira, janeiro 16, 2012

Noticia do Translational Psychiatry

«Os Maus tratos na infância, que provocam a modificação epigenética do gene do receptor de glucocorticóide (NR3C1), influenciam o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (eixo HPA). Foi investigado se os maus tratos na infância e sua gravidade estariam associados com aumento da metilação do promotor exon NR3C1 1F, em 101 pessoas com transtorno de personalidade borderline (TPB) e 99 com transtorno depressivo maior (MDD), indivíduos com, respectivamente, uma taxa alta e baixa de maus tratos na infância, e 15 indivíduos MDD comorbidade com transtorno severo pós-traumático (TEPT). O abuso sexual na infância, a sua gravidade eo número de tipo de maus-tratos é positivamente correlacionado com NR3C1 metilação (P = 6,16 × 10-8, 10-7 e 5,18 × 1,25 × 10-9, respectivamente). Na BPD, a repetição de abusos e abuso sexual com penetração estão correlacionados com uma maior porcentagem de metilação. O sangue periférico pode, portanto, servir como um proxy para os efeitos ambientais nos processos epigenéticos. Essas descobertas sugerem que os eventos de vida precoce podem de forma permanente causar impacto no eixo HPA que ocorrendo modificações epigenéticas do NR3C1. Este é um mecanismo pelo qual a maus tratos na infância podem levar para uma vida adulta psicopatológica.»

fonte: http://www.nature.com/tp/journal/v1/n12/full/tp201160a.html

segunda-feira, janeiro 02, 2012

    « Na patologia borderline, predomina a identificação primária. De facto, encontramos fortes alterações da identidade nos pacientes psicóticos e nos estados-limite. Nos primeiros, encontramos uma identidade alienígena, constituída por assimilação do que os outros disseram ao sujeito que ele era, isto é, por identificação imagóico-imagética. Nos pacientes borderline, a identidade é difusa – o indivíduo não tem uma identidade definida, o que acontece porque o indivíduo construiu-se na base da identificação imagóico-imagética e da identificação ao modelo, pouco se interrogando a si mesmo e observando a sua experiência. Neste sentido, a identidade idiomórfica está pouco organizada – o sujeito não se conhece por dentro, por aquilo que sente que é, mas por aquilo que os outros lhe dizem que ele é.

   A ansiedade de separação é muito intensa, já que o paciente borderline liga-se ao outro mais por necessidade do que por afecto.
   A capacidade de funcionar e o prazer no funcionamento estão ausentes no borderline – é um paciente que passa ao acto, não investindo na tarefa, mas apenas na finalidade. Deste modo, são pessoas com pouca capacidade lúdica e pouca capacidade de simbolização (já que esta depende aquela). A baixa tolerância à frustração e o fraco controlo dos impulsos acentua a tendência de passagem, ao acto. Nestes pacientes, o pensamento é um esforço e não um prazer.

Etiopatogenia da patologia borderline
   Segundo A. Coimbra de Matos, a etiopatogenia da patologia borderline centra-se na estimulação e resposta inadequadas, isto é, rejeitantes, de engolfamento, desnarcisantes e acusadores, actuando antes e sobretudo durante a sub-fase de reaproximação no processo de separação-individuação e em reaproximações ulteriores (fase genital infantil, período de latência ou em plena adolescência). Este tipo de relação objectal terá como consequência o acentuar do universal conflito de ambitendência e o agravamento do conflito em torno da agressividade, aumentada e dificilmente integrada na personalidade. Assim, dada a imaturidade do ego e a sobrecarga emocional a que o sujeito é exposto, s mecanismos de defesa predominantemente utilizados serão processos primitivos ou arcaicos:

•clivagem afectiva binária (bipartição do objecto em bom e mau) – processo activo de defesa contra a ambivalência extrema e insuportável (na psicose, a clivagem não é apenas afectiva, mas também geográfica – formando objectos parciais – e múltipla, o que leva à fragmentação do objecto e do self, sendo também tendencialmente passiva, ou seja, não exigindo um esforço activo da parte do indivíduo, é mais um desmoronamento por falta de coesão – desmantelamento do eu)

•projecção identificativa (projecção do mau para fora da relação privilegiada sobre um terceiro)

•denegação da realidade

•reforço da dependência com idealização objectal primária (idealização extrema e acrítica)

•erosão narcísica e da auto-imagem (diluição da identidade e ameaça de fragmentação do self)

As defesas neuróticas podem emprestar ao quadro clínico um colorido neurótico; por vezes, encontramos também defesas depressivas pela introjecção da malignidade do objecto; mais frequente é o recurso à posição maníaca – o sujeito agarra-se a satisfações pontuais, negando a realidade interior de insatisfação afectiva, abandono, desamparo e agressão.
   A defesa maníaca, ao negar a depressão por perda/carência de afecto, trava a evolução para a posição depressiva e impede a reconciliação com o objecto, bem como o estabelecimento de uma relação minimamente satisfatória. Pelo controlo agressivo e omnipotente do objecto, impede o investimento da representação objectal – o triunfo é, então, ilusório e, consequentemente, a satisfação e precária e diminuta, daí o recurso a gratificações episódicas.
   Nos pacientes borderline, o mundo interior é invadido pelo mau, que domina o bom; eclode, então, a raiva e o sentimento de vazio. Em face de tamanha ambivalência, insuportável pelo sofrimento que provoca, a clivagem impõe-se. Com a clivagem, instala-se a típica relação alternante da personalidade limite – efusão passional seguida de ataque raivoso. E as ondas positivas e negativas sucedem-se – com interregnos de apatia (anulação afectiva, aborrecimento) e redução do investimento na realidade externa – depressão limite – ou de hiperactividade maniforme ou ansiosa (busca de estímulos, passagem ao acto, irrequietude) – hipomania.
   A instabilidade do humor, das relações, da intencionalidade e dos próprios processos defensivos complementares será o denominador comum dos variados quadros clínicos que a perturbação nuclear vai apresentar. Por outro lado, encontramos difusão da identidade e indecisão ou alternância na orientação libidinal, logo, ambiguidade na identidade sexual.
   Este síndrome, em qualquer idade que se apresente, traduz um conflito intrapsíquico não resolvido à volta da separação do objecto primário, isto é, a dolorosa fixação do paciente num estado de certa simbiose/dependência com a figura materna e/ou dos seus substitutos, extensões geográficas ou representantes simbólicos. A frequência com que encontramos nestes pacientes uma mãe, ou um pais (ou ambos) com características simbiônticas – desejando e vivendo predominantemente em simbiose – é enorme, o que nos leva a considerar a importância etiológica da personalidade borderline do objecto materno.
   É precisamente a necessidade que alguns pais têm de que os filhos preencham as suas lacunas narcísicas, rejeitando-os quando assim não acontece, que pode fabricar um caso-limite. Neste sentido, a simbiose da qual o paciente tem dificuldade em sair não é só produto de um período simbiótico infantil insuficiente ou insuficientemente vivido – por carência sistemática, abandonos drásticos e frequentes – mas também da traça simbiôntica do objecto parental, o que impede o desprendimento evolutivo e favorece o laço simbiótico.
   São mães e pais que gratificam a simbiose-dependência e atacam os desejos, impulsos ou comportamentos autónomos da criança, isto é, toda a sua exploração e autonomia é sistematicamente reprovada, reprimida e diminuída, ao mesmo tempo que é estimulado, valorizado e premiado o comportamento de aproximação e de apego. Logo, o percurso evolutivo é travado e distorcido por um predomínio do sistema de apego sobre o sistema de exploração.
   É uma verdadeira cultura de colonização dos filhos – o filho é uma espécie de prótese ou adorno dos pais e só é valorizado enquanto tal, quando e como desempenha essa função. Frequentemente, à excessiva simbiose com a mãe, soma-se a carência paterna, por ausência ou indisponibilidade afectiva; o que reforça ainda mais a simbiose.
   Uma outra característica destes pacientes é o ressentimento, que depende da vulnerabilidade narcísica. O ressentimento é indomável, violento e duradouro, provocando desejo de vingança, retracção e ruptura relacional – a ruptura por ressentimento, tendencialmente definitiva, duradoura e dissolvente da relação objectal.
   Assim, a representação do objecto apaga-se, quase desaparece, e daí o vazio, a desertificação do mundo interior, o esbatimento ou semi-perda do objecto interno. A constância afectiva do objecto (permanência no mundo interno) é atingida – donde, a dificuldade em evocá-lo na sua ausência, principalmente, de recordá-lo de um modo vivo, animado e relacional, revivendo saudosamente o passado e construindo uma fantasia de agradável reencontro, um romance interior. No paciente limite, a recordação existe, mas é pungente e dolorosa e a sua depressão – a depressão limite – aproxima-se da depressão psicótica, do buraco depressivo.
   O mecanismo típico da personalidade borderline é a clivagem afectiva do objecto, que perde, assim, a sua continuidade afectiva como defesa contra a insuportável ambivalência, o intolerável vivido de sentir-se rejeitado pelo objecto. Pela clivagem, instala-se a alternância da relação boa e má, ou seja, relação de objecto aceite porque aceitante e rejeitado porque rejeitante.
   A consequência é a clivagem do self – bom self, identificado com o bom objecto, e mau self, identificado com o mau objecto. Esta relação clivada e alternante é a característica dinâmica mais típica da personalidade borderline, que acentua e torna perene a sua conhecida instabilidade.
   Ao nível da consciência psicológica borderline, em que a percepção/representação do próprio está ligada à percepção/representação do objecto, a perda deste é seguida de perda no self. Verifica-se, então, por curta que a vivência de falta seja, uma angústia de morte – este vazio ou desaparecimento do essencial traduz a experiência borderline primária, que pela vida fora se repetirá, por evocação emocional reflexa, sempre que algo de semelhante seja vivido na realidade actual.



Psicopatologia
   O paciente limite, ao invés do psicótico, mantém o investimento no mundo exterior – a decepção com alguém ou o desprazer com uma situação leva-o à ruptura do laço afectivo e ao desinvestimento da realidade circunstancial, porém, é uma retirada limitada à pessoa ou situação frustrante. Trata-se, em regra, de um desinvestimento maciço do objecto, mas só do objecto em causa, com apagamento da sua representação.
   A difusão da identidade, característica importante destes pacientes, tem aqui, nesta dificuldade de persistir nos investimentos, uma das suas mais importantes raízes. Assim, a fim de limitar o sofrimento e a decepção, em face de circunstâncias desagradáveis ou mesmo insuportáveis, o paciente limite retira-se e desinveste, investindo noutros objectos.
   Assim, após ruptura amorosa, a face negativa do objecto eclipsa o bom objecto; de qualquer forma, o sujeito retoma o investimento – se não do mesmo, de outro objecto; se não libidinalmente, agressivamente. É uma eleição narcísica – o sujeito reflecte-se no espelhado do objecto ou aquece-se ao seu brilho e participa na sua grandiosidade; ou ainda porque o objecto o representa, é um duplo narcísico – a sua imagem especular. Neste último caso, quando o tempo e a realidade lhe mostra as diferenças, irrita-se, decepciona-se e abandona. É, aqui, uma escolha por projecção do eu ideal.
   A sua vida é pontuada de grandes estusiasmos/amores ardentes, cedo abandonados, porque rapidamente frustrantes, pela não correspondência o ideal desejado. Muito desejado, porque nunca obtido, não fora essa a sua falta básica – a de um amor materno/paterno de qualidade indiscutível, um afecto incondicional.
   Em face do comportamento parental de exigência e sucção, a criança ou se deprime e culpabiliza ou se torna um revoltado agressivo e disfórico; a insuficiência narcísica com defesa pela retracção, arrogância e supercompensação configurando o quadro da personalidade narcísica ou o desenvolvimento de uma personalidade anti-social são também saídas possíveis.
   Outro aspecto significativo do funcionamento limite é a existência de uma certa confusão entre percepção e fantasia, realidade exterior e realidade interna. A intensidade do afecto que impregna as fantasias do paciente limite é tal que facilmente elas adquirem o cunho de realidade. Complementarmente, a violência emocional com que as percepções ressoam é frequentemente tão grande que, com facilidade, estas são de tal maneira distorcidas que já pouco têm que ver com o real observado.
   O paciente limite recorre abundantemente à identificação projectiva. Tendo atingido o nível da tridimensionalidade – com o reconhecimento do mundo/espaço interno do objecto e desenvolvimento do seu próprio mundo interno -, mas não tendo conseguido ainda uma suficiente estabilidade, coesão, domínio e aceitação do seus conteúdos internos, é-lhe fácil desembaraçar-se daquilo que o incomoda ou causa problemas projectando-o no outro. Esses conteúdos, reconhecidos então como alheios, deixam de perturbar o self e são mais bem controlados. É uma evacuação agressiva, que dá às relações um cariz paranóide, mas alivia a tensão e o conflito intrapsíquicos. É, por outro lado, debilitante, porque produz um certo esvaziamento do self.
   Mais frequentemente, o borderline projecta no objecto externo actual ou em pessoas circunstanciais atributos do objecto interno arcaico. Esta projecção identificativa tem por principal finalidade conservar a boa relação com o objecto eleito, desembaraçando este dos seus defeitos mais desagradáveis. É uma projecção para fora da relação privilegiada, que se quer defender e preservar da toxicidade.
   A angústia de separação, a depressão de abandono, o sentimento de solidão e desamparo (falta e inacessibilidade do objecto) e de vazio interior (não consolidação do introjecto objectal orbitário) traduzem em linguagem semiológica o desconforto e mal-estar, a aflição, a tristeza e o desespero específicos destes pacientes. Verdadeiramente só e vazio, porque sem representação evocável do objecto anaclítico, a segurança interior do paciente borderline assenta fundamentalmente no objecto externo.



Tratamento
A patologia borderline é a patologia da insegurança, da perda objectal precoce e da ferida narcísica profunda, o que impõe uma reconstrução analítica que permita a emergência dos afectos perdidos, uma construção da transferência que facilite a restauração do self e uma capacidade de sonho e autorização de liberdade no analista capazes de promover a eclosão do funcionamento mental criador do analisando.


O tratamento psicológico da perturbação borderline visa:


•compreensão, análise e resolução transfero-contratransferencial da depressão de desamparo

•restauração da falha narcísica através da transferência simbiótica, que permite uma contínua, consistente e não traumática progressão para a separação, individuação e autonomia

•diferenciação, confirmação da identidade própria e afirmação de intenção e desejo

O tratamento da clivagem pela interpretação sistemática da transferência negativa no aqui e agora do vivido da sessão – a insuportável ambivalência que a determinava vai-se temperando pela experiência de não retaliação nem abandono ou desprezo e pela simultânea constatação da permanência do bem-estar e contentamento do objecto analítico